terça-feira, 19 de janeiro de 2010

As virtudes do liberalismo económico

Por Sérgio Lavos, do Arrastão.

Vale bem a pena ler.

"Em 1908, Henry Ford inventou o modelo T, o carro do povo, mais barato, fabricado em série, que esbatia as diferenças de classe e permitia à classe média americana aceder a um artigo que até então era privilégio da burguesia abastada. Já ouvi dizer, a propósito do preço dos combustíveis em Portugal, que é bem feito que paguemos mais do que no resto da Europa. Mas ter carro não é, não deve ser, um luxo. Como Ford provou, a generalização do uso do automóvel permitiu uma maior igualdade entre as pessoas. Se há qualidade que o liberalismo económico pode ter, é esta. Numa economia não estatizada, a livre concorrência permite que os produtos cheguem mais baratos ao consumidor. Mas Portugal é um caso: temos empresas semi-privadas que operam sozinhas no mercado, como a EDP, e continuam a aumentar os preços mesmo em tempos de inflação negativa, e num bem de primeira necessidade, que não faz sentido que não tenha os preços controlados pelo Estado; temos um ramo da economia onde existe um simulacro de concorrência, com dezenas de empresas a fornecer o mesmo produto e a praticar preços semelhantes; e temos uma Autoridade da Concorrência que fecha abusivamente os olhos à evidente concertação de preços praticada por essas empresas. Bem pode vir a Galp dizer que a culpa é dos impostos que tem de pagar (leia-se a notícia do Público para se perceber claramente que a empresa distorce a realidade de maneira quase cómica) – não é normal que num país com um nível de vida que está muito abaixo da média na União Europeia sejam praticados preços na área dos combustíveis que nos põem em quinto lugar no ranking dos países europeus. Se a Autoridade da Concorrência não consegue provar que existe concertação de preços entre as gasolineiras, que se regresse ao passado e volte o preço dos combustíveis a ser controlado pelo Estado. Como está agora, é que seguramente não está bem – ou temos um liberalismo económico a funcionar em pleno, com todos os defeitos e qualidades, ou não temos, e nesse caso, tudo o que seja produto essencial deveria ter preços controlados pelo Estado. E como provou Ford há mais de cem anos, não há como não achar que os combustíveis não sejam um bem de primeira necessidade. Seria tão fácil fazer com que o mercado funcionasse – bastava um boicote generalizado à empresa que monopoliza o mercado – a Galp – e era ver os preços a baixar…"

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